quarta-feira, 29 de junho de 2011

TRANS AMAPÁ

Da capital ao Extremo Norte, margem direita do rio da cobra grande, o Oiapoque, percorrem-se seiscentos quilômetros em média de estradas com muitas aventuras, perigos e divertimentos. Atravessam-se diversas paisagens, muitos rios sob pinguelas perigosas, atoleiros, nevoeiros, animais cruzando o cami-nho, pássaros coloridos. Maçaricos e suas famílias, em fila indiana desfilam elegantemente na pista; urubus, lixeiros da natureza, próximo ao depósito de lixo; répteis e quelônios esquentando o sangue no asfalto. Da floresta de pinus, cervos saltitantes. Mais adiante, perto do Município do Amapá, tranqüilos tamanduás negros, enormes búfalos, atenção com eles! Seus cérebros são mais lerdos que os carros. Pare! Espere ele olhar e após retirar-se, lentamente prossiga. Cobras já não se vêem tantas e parece que estão ficando cada vez menores. Porém o único acidente durante a viagem foi que uma dessas serpentes passou desta para uma melhor, ou melhor, sucumbiu debaixo dos pneus. Grandes roedores, as mucuras brancas, pretas e mescladas. Vez ou outra você cruza com outro veículo de grande porte. Já é bem melhor que há duas décadas, quando mesmo com possante caminhonete tive mais dificuldades. O refrigerante aumentava de preço a cada quilômetro. Viam-se muitos caminhões atolados, logo após a cidade das tartarugas mirins, cidade das cem curiosidades do Brasil nos guardanapos americanos dos McDonald’s. Tartarugalzinho para uns e Litle Turtle para ou-tros. Passamos pela cidade das tracajás grandes, Tracajatuba. Nesta época ainda se vêem pedras gigantes imitando tartarugas. Fui uma vez pescar com o saudoso e alegre Júlio Pereira em cima de uma delas. Os peixes eram fartos e bem criados no tamanho. Naqueles tempos, diziam: "O Rio é um feriado, São Paulo uma segunda-feira e o Amapá era mais que um rio cheio de peixes a semana toda. Na realidade era e continua sendo muito trabalho, com poucas horas de lazer para se conhecer o nosso próprio Estado. O patriarca da ecologia José Bonifácio ficaria feliz de ver ao norte florestas quase que virgens, parodiando o povo das matas. Em linha reta de Macapá, à margem do Araguari, são 80 quilômetros. Hoje poderia ser construída jogando sacos de cal de um pequeno avião, a seguir dois tratores de esteiras com uma enorme corrente entre eles. Iriam derrubando tudo à sua frente. Na época, a poderosa Icomi, para facilitar a colheita das árvores do papel, fez alguns serpenteamentos no trajeto. Que deveria ser retilíneo. Trata-se de região de cerrado e de planalto. Grandes aclives e declives não existem neste trecho. Quanto ao capeamento asfáltico, fora previsto para durar até 2002, o que aconteceu. A Icomi retirou-se, vendeu a floresta e a estrada acabou, foi remendada recentemente até Ferreira Gomes. Hoje leva-se cerca de duas horas neste percurso. No passado recente, às vésperas das eleições, anunciavam cada quilômetro asfaltado. Alguém anunciou até que já estava toda pavimentada. Só está até Litle Turtle. Daí em diante não tem sinali-zação e não precisa. A estrada toda é perigosa.

Cássio Godoy
Da Equipe de Articulistas

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